sábado, 30 de julho de 2011

A felicidade é o cúmulo da mediocridade
Fran Christy 

Quando toco nesse assunto, muita gente me olha com aquela cara de “o que é que você está falando? Você está maluca?”. Nossa sociedade é viciada em felicidade. Aprendemos desde cedo que nossas decisões na vida devem ser tomadas baseadas no potencial que as escolhas à nossa frente possuem de nos proporcionar uma vida feliz. Com quem vou me casar? Vou ter filhos? Que profissão vai me realizar mais?

E por aí vai. A cada passo que damos, supostamente devemos fazer a matemática da felicidade em nossa mente e analisar qual opção tem maior potencial. Ficamos furiosos quando, depois de um tempo, descobrimos que a escolha que fizemos não era a que trazia felicidade, mas, sim, a outra de que abrimos mão.

Esse raciocínio está tão impregnado em nossas mentes que temos muita dificuldade em percebermos toda sua armadilha e decepção. A reação natural quando toco nesse assunto é o questionamento contrário: “Então, se não vamos procurar a felicidade, vamos fazer o que? Procurar a infelicidade? Aceitar uma vida que não queremos? Qual o propósito disso?”.

Esse raciocínio provém da noção de que se não buscarmos a felicidade na vida, então nada nos sobra. Bom, vamos pensar um pouquinho aqui com lógica, ok?!

O que é realmente essa tal de felicidade? Não de uma forma concreta, mas o que as pessoas estão buscando quando elas medem alternativas tentando descobrir qual delas as fará felizes?

Conforto, ausência de problemas e desafios, alegria, tranqüilidade, paz… Humm… Parece ótimo, não? Do ponto de vista social, o final feliz é esse, não é mesmo? Mas você já parou para pensar que não há final algum? Não há final feliz, nem triste, não há final até que sua própria vida acabe! Nossa vida não é um filme que acaba depois que alcançamos nossos objetivos.

Então por que tanta gente persegue “sonhos” como se estes carregassem seus finais felizes? Mas vamos um pouco mais fundo… Que vidinha mais medíocre essa feliz, hein? Nenhum problema, nenhum desafio, só alegria, só conforto, só paz, só tranqüilidade… O quanto demoraria para você se sentir infeliz com toda essa felicidade?!

Mas, então, você está dizendo que deveríamos ser infelizes? É aí que muita gente não entende exatamente o que é que estou falando…

Felicidade ou infelicidade são percepções do ego. Falamos sobre isso no artigo da semana passada, mas percebi pelos comentários que muita gente não entendeu direito o que eu quis dizer…

Nosso lado egoísta, aquele que tem vontade, que quer as coisas, é que quer ser feliz. Nosso ego não gosta de nada que atrapalhe seu prazer. Se dependesse do nosso ego, ficaríamos em casa o dia inteiro sentados na frente da TV, comendo pipoca e pizza e só levantaríamos para fazer coisas que também são prazerosas. Jamais aceitaríamos qualquer situação que nos proporcionasse qualquer tipo de desconforto a não ser que visualizássemos um benefício futuro resultante do sacrifício de abrir mão do próprio prazer.

Como a maioria das pessoas não pode se dar ao luxo de só fazer o que quer de acordo com suas próprias vontades, elas desgostosamente fazem os sacrifícios que a vida lhes impõe, mas seu “sonho” é voltar à condição de prazer máximo. É por isso que buscam a felicidade com tanto ardor. O que elas querem, na verdade, é eliminar todas as atividades que a vida lhes impõe para que elas possam, então, desfrutar de tudo de bom que a vida tem a oferecer.

Muitas pessoas erroneamente interpretam a filosofia Carpe Diem dessa forma. O motivo é que simplesmente não entendem o que poderia haver na vida além de buscar a própria felicidade.

Esse raciocínio, como eu mencionei, é resultado de uma vida inteira tendo essa idéia martelada na cabeça, assistindo a filmes de Hollywood que mostram exatamente esse conceito – o filme sempre acaba quando o herói finalmente conquista seus objetivos e, então, se supõe que depois do final da história ele viveu feliz para sempre.
A minha percepção sobre esse assunto é altamente influenciada pelas diversas teorias orientais que abominam o ego e suas vontades e também pela ocidental conscienciologia*, criada por Waldo Vieira.

Esse meu background me leva a crer que não viemos a este mundo para curtir a vida e sermos felizes, mas, sim, para evoluir e ajudarmos uns aos outros. Dentro dessa perspectiva, a felicidade parece ser uma grande perda de tempo, um poço sem fundo de mediocridade.

Acredito que temos uma programação de vida, uma missão (ou várias!) e que a realização desse propósito não envolve conforto, alegria ou tranqüilidade. Quem sente essas emoções é o ego, justamente a parte de nós que não está a fim de cumprir missão alguma, está a fim de ficar quieto, sem ser perturbado, ou melhor, a fim de só curtir a vida no maior conforto.

O ego não gosta de nada difícil, evidentemente! “Difícil” envolve desconforto, desafios e muitas vezes sacrifício sem benefício do final das contas. O ego não quer saber desse tipo de coisa, ele só topa o sacrifício se estiver de olho no benefício de que vai usufruir quando tudo terminar.

O próprio conceito de “evolução” carrega inerente consigo uma interpretação de benefício. Porém, muitos de nós, na condição de seres humanos sem visão de conjunto alguma, não conseguimos ver os benefícios reais. Nosso ego, por sua vez, não topa desafio algum se não for para ganhar algo em troca de todo o sacrifício.

É por isso que muita gente simplesmente não entende porque precisamos abrir mão da felicidade, ou melhor, do impulso de buscá-la a qualquer custo. Nossa sociedade está tão impregnada com a idéia de que se não há benefício, não vale a pena, que muita gente não consegue deixar cair a ficha.

Não é uma questão de ser infeliz, não é isso que estou defendendo! A minha posição é que se preocupar com felicidade ou infelicidade é uma atividade puramente egoísta. O que defendo é não se importar com felicidade ou com infelicidade, simplesmente fazer o que tem que ser feito e ponto final. É difícil? Ok. Vou ter que fazer sacrifícios sem benefício algum? Ok. Viver seu propósito de vida requer esse tipo de postura. Não acredito que a felicidade seja o propósito de ninguém! Se fosse pra ser fácil, você não estaria neste mundo! Você já pensou nisso?

O negócio, então, é aceitar a dificuldade sem reclamar, sem ficar dizendo com aquela voz chorona: “Mas não é fácil!” – por que deveria ser?

Ao aceitar o que vier, encarar as dificuldades, vencer os desafios sem fugir deles, sem ficar tentando eliminá-los porque você quer ser feliz, porque quer sombra e água fresca, você encontrará sua força interior. É só a partir daí que você pode realmente viver seu propósito de vida!

*Não confunda conscienciologia com “cientologia”, a tal religião dos famosos como Tom Cruise e John Travolta. A conscienciologia não é uma religião. Se você quiser mais informações, visite o site http://www.iipc.org/

Fran Christy é formada em administração de empresas com especialização em planejamento estratégico. Fran vive em Seattle, EUA e escreve sobre desenvolvimento pessoal, produtividade e estratégias de vida.

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