Imagem acima faz parte da campanha de racionamento “Save our Water” do governo da Califórnia
A seca que castiga o estado americano da Califórnia há cerca de quatro anos obrigou o governador Jerry Brown a anunciar uma medida drástica esta semana. Todas as cidades serão obrigadas a diminuir o consumo de água em 25%. É o primeiroracionamento oficial na história do estado.
A medida deve economizar cerca de 2 milhões de m3 de água nos próximos nove meses. Segundo a Controladoria de Recursos Hídricos da Califórnia, as companhias de distribuição de água que não cumprirem as metas de racionamento podem pagar multas de US$ 10 mil por dia.
Brown tomou a decisão após o estado registrar neste inverno os menores índices deacúmulo de neve dos últimos anos. “Estamos em pé sobre um terreno com grama seca, onde deveria haver pelo menos 50 cm de neve”, afirmou durante visita a um centro de monitoramento de neve em Sierra Nevada, próximo a Lake Tahoe, região famosa pelas estações de esqui. Este ano, muitas destas áreas fecharam por falta de neve.
O degelo da neve representa 60% da água capturada pelos reservatórios da Califórnia. Durante um ano normal, ele é responsável por fornecer 30% de água para oabastecimento total do estado.
O racionamento de água deverá afetar milhões de pessoas. Estão localizadas na Califórnia algumas das cidades mais populosas dos Estados Unidos. A iniciativa do governo estadual só irá poupar agricultores, que já estão sendo severamente impactados pela estiagem prolongada.
Entre as medidas adotadas para reduzir o uso de água estão a substituição de cerca de 4,6 milhões de m2 de gramados por uma vegetação mais resistente à seca e a criação de programas que estimulem a população a fazer o mesmo, além de trocar seus sistemas de irrigação por outros mais modernos.
“As pessoas vão ter que se dar conta que esta é uma nova era”, afirmou o governador da Califórnia. “A ideia de que seu jardim será regado todo dia fará parte de algo do passado”.
Confira outras imposições que fazem parte do racionamento de água da Califórnia:
- proibição de regar gramados ornamentais em espaços públicos;
- prédios e residências novas ficam proibidos de fazer irrigação com água potável;
- jardins só podem ser regados depois de 48h de episódios de chuva;
- universidades, campos de golfe e cemitérios devem instalar sistemas de redução de uso de água;
- restaurantes só devem servir água para seus clientes caso estes solicitem (nos restaurantes dos Estados Unidos é comum e gratuita a prática de servir água aos clientes);
- reforço no policiamento e fiscalização sobre desperdício de água ou desvio ilegal do recurso.
Foto: reprodução campanha “Save our water”
ver este postcomente
No ano em que a questão da segurança hídrica está no centro dos principais debates que acontecem no país, relatório divulgado pelo Instituto Trata Brasil* revela números estarrecedores. Em 2013, o volume de água tratada desperdiçado no país foi equivalente a 6,5 vezes a capacidade do Sistema Cantareira (1 bilhão de m3 ) ou 17,8 milhões de caixas de água de 1.000 litros perdidas por dia. Toda esta água que foiliteralmente para o ralo causou um prejuízo aos cofres públicos (e ao bolso dos contribuintes) de R$ 8 bilhões.
O estudo “Perdas de Água: Desafios ao Avanço do Saneamento Básico e à Escassez Hídrica”, elaborado em parceria com a GO Associados, leva em conta dois tipos de perdas: as chamadas perdas reais, associadas a vazamentos e as aparentes, aquelas relativas à falta de hidrômetros ou demais erros de medição, ligações clandestinas e roubo de água. O relatório foi desenvolvido com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS – 2013) do Ministério das Cidades.
As regiões Norte e Nordeste são as que apresentam os índices mais altos de perdas devido a problemas na distribuição da água (50% e 45%, respectivamente). A média nacional com o desperdício é de 36,9%. As cidades campeãs em perdas são São Luis (MA), Cuiabá (MT) e Jaboatão dos Guararapes (PE). Nesta última, 70% da água tratada não chega até a população.
Em todo mundo ocorrem perdas no processo de distribuição de água. Na Alemanha e Japão, este desperdício é de aproximadamente 8%. Em outros países europeus, a média fica entre 15% e 25%. Em Tóquio, graças a um forte investimento e comprometimento governamental, as perdas com água são de apenas 2%.
Os prejuízos da rede brasileira de água tratada não são novidade. Há anos o fato já é noticiado. Mas com a grave seca que se abate sobre o país a situação fica ainda mais alarmante. Apesar das perdas com faturamento terem se mantido praticamente estáveis nos últimos seis anos, o índice de perdas na distribuição apresentou ligeira queda no mesmo período (confira gráficos mais abaixo). Todavia, ainda está longe de ser aceitável.
Especialistas apontam que as principais cidades do mundo que conseguiram aumentar a eficiência da gestão hídrica investem, entre outras ações, na modernização e substituição frequente de suas redes de distribuição. No Brasil, capitais como Rio de Janeiro e São Paulo possuem tubulações de água extremamente antigas. Uma projeção realizada pelo estudo da Trata Brasil indica que, se em cinco anos houvesse uma queda de 15% nas perdas do país, ou seja, de 39% para 33%, os ganhos totais acumulados em relação ao ano inicial seriam da ordem de R$ 3,85 bilhões de reais.
O relatório completo “
Perdas de Água: Desafios ao Avanço do Saneamento Básico e à Escassez Hídrica” está disponível online no
site do Instituto Trata Brasil.
Foto: Ibai/Creative Commons
Nenhum comentário:
Postar um comentário