Com a morte de Eduardo Campos, dos seus assessores e dos dois pilotos, os partidos políticos e as principais lideranças do País deram uma pequena trégua nas suas campanhas para se solidarizarem com as famílias nesse momento de dor pelas perdas das vidas dos seus entes queridos.
Sabemos que a morte é certa, mas é a primeira vez no Brasil que um candidato à presidência morre dias antes de iniciar o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, considerado um trunfo imprescindível para convencer os eleitores indecisos, entre outros mais “flexíveis”, a fazerem as suas escolhas.
Nesse breve intervalo de luto os oponentes deixaram as diferenças de lado para valorizar o que de positivo havia no homem e no candidato Eduardo Campos. Assisti alguns trechos da missa realizada em Recife, uma cerimônia popular que colocou no mesmo ambiente os moradores da cidade, políticos vindos de distintas regiões, familiares e governantes em um clima de respeito, tristeza e reverência.
Essa atmosfera de solidariedade no luto deveria, a meu ver, ser uma postura assumida diariamente em nossas vidas e diante de todas as decisões que tomamos, se o entendimento fosse de construção de um projeto de nação e não apenas partidário e de poder.
Talvez seja utópico, mas por que não estabelecermos em um processo democrático e participativo, as alternativas e os caminhos para o Brasil nos próximos 50 anos, a fim de definir os principais desafios, metas, compromissos efetivos como, por exemplo, a erradicação da miséria e da fome; oferecer educação e saúde de qualidade; saneamento básico e salário digno para todos; valorização das diversidades étnicas, regionais e dos recursos naturais; reforma agrária, inovação e mobilidade urbana, dentre outros temas que provavelmente todos os candidatos à presidência incluirão nas suas propostas de governo.
E, por que não avançarmos para um sistema de gestão dos interesses públicos pautado na cooperação, por meio do qual consigamos pensar, juntos, no País que queremos? Independente de quem seja vencedor neste ano, uma das suas responsabilidades a partir de 2015 poderia ser a de inspirar a elaboração suprapartidária e pelos mecanismos constituídos, de um projeto que defina como esse País tropical deverá avançar no período 2018 a 2068, para se transformar numa Nação justa e digna para todos os cidadãos.
A morte virá mais cedo ou mais tarde para cada um de nós. Por isso é importante não adiarmos o que temos para fazer. O Brasil só será menos desigual e injusto se desejarmos e agirmos para promover as mudanças nessa direção. Parece utopia, mas os brasileiros têm pressa e não temos mais tempo a perder. Por aqui, fico. Até a próxima.
* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.