Empresas tradicionais falam sobre economia colaborativa em painel no CEG 2016
24/06/2016
Natura e Kantar Ibope trazem seus olhares sobre as mudanças no ambiente de negócios
“Empresas tradicionais e o novo modelo de negócios” foi o tema do segundo painel do dia durante o Congresso FNQ de Excelência em Gestão (CEG), que aconteceu em 22 de junho, na capital paulista.
Com moderação da jornalista Cláudia Vassalo, o debate contou com a participação do diretor de inovação comercial da Natura, José de Luca, e do diretor jurídico e corporate affairs do Kantar IBOPE Media, Márcio Henriques da Costa.
Para os painelistas, o modelo de economia colaborativa não tem volta. “É difícil imaginar que exista algum tipo de negócio que não seja digital no mundo”, afirmou José de Luca.
De acordo com Márcio, é inevitável que ocorra um choque das empresas tradicionais com a era digital. “Para que ambos sobrevivam, tem de acontecer uma mudança disruptiva, de mindset mesmo”, afirmou. “No caso do Kantar IBOPE Media, o cliente espera que tenhamos uma precisão estatística, contudo, considerando o movimento das redes digitais também. Temos de estar preparados e buscar parceiros que nos complementem diante desse cenário irreversível”, completou.
José de Luca afirmou que é um defensor da economia colaborativa. “O modelo de negócio tem de gerar mais valor para cada um de seus participantes. Mas para gerar um engajamento diferente, a missão e a causa da empresa são muito importantes e devem estar bem claras. As pessoas buscam um empoderamento no sentido de construir coisas que deixam legado e não apenas produzam lucro”, complementou.
Leia, abaixo, alguns trechos dos debates.
Cláudia Vassalo - para José de Luca, você não considera um paradoxo a opção da empresa em diversificar os canais de vendas e a manutenção da rede colaborativa de vendedoras da Natura?
Natura - não é um paradoxo. A venda direta acontece por meio de uma rede de relações, composta de pessoas que, por vontade própria, juntaram-se para comercializar os produtos e fazer parte de um ideal maior. O conceito de colaboração sempre esteve muito entranhado em nossa cultura. Temos uma rede de pessoas que têm muito ativos diferentes e subutilizados: informações de clientes, produtos, estoques. O nosso desafio é utilizar a tecnologia para colocar essas pessoas em rede e potencializar suas atividades.
Cláudia - como é a colaboração no Kantar Ibope?
Kantar Ibope - a questão colaborativa faz parte do processo produtivo. É um insumo para as pesquisas. Com a internet, criou-se possibilidades de construção de painéis de pesquisas on-line. Qualquer pesquisa de mídia é colaborativa. Contudo, na hora em que eu abro a participação das pessoas em uma plataforma digital colaborativa, é preciso tratar esses dados para manter o padrão de qualidade de nossas atividades.
Cláudia - sobre o ativo subutilizado da Natura, como aumentar a produtividade das vendedoras?
Natura - a própria natureza da relação com as vendedoras é colaborativa. Há quatro anos, construímos coisas juntos, no projeto Cro-criando. Temos 1,5 milhão de consultoras. Criamos a Rede Natura em 2013, onde convidamos as pessoas que queiram ter espaço digital para falar da Natura, gerando mais valor para o todo. É uma relação voluntária. No momento que ela vende um produto, é remunerada. Mas o espaço na rede é uma escolha mesmo. O modelo negócio é um modelo autônomo de venda. Temos, por exemplo, mais de 100 mil consultoras que são maquiadoras excelentes. Como posso ligar esse potencial de quem faz maquiagem e vende produtos? Não preciso ter maquiadora dentro da empresa. Mas posso ajudá-las a se encontrarem. A economia colaborativa tem modificado o negócio da Natura.
Cláudia - qual o futuro da economia colaborativa?
Kantar Ibope - está muito claro que o modelo de economia colaborativa não tem volta. Temos a nossa percepção tradicional de pesquisa e tem a dos clientes, que esperam outras tecnologias. Temos de caminhar junto com isso. É uma mudança demindset: custo versus entrega diferenciada versus complementação de produto entregues.
Cláudia - nesta nova fase, de economia colaborativa, a recomendação passa a ser muito importante? Será um diferencial para as empresas tradicionais?
Natura - isso tem muito valor. 45 anos de história foram construídos em cima do poder de indicação. Mas isso não substitui o valor da marca, de criação de um relacionamento do que ela significa. Usando um modelo colaborativo, tem-se uma vantagem competitiva muito grande em relação aos modelos tradicionais, pois ele faz uso de bens que já estão disponíveis na sociedade. Por outro lado, a empresa colaborativa não tem um controle formal como nas empresas tradicionais.
Kantar Ibope - a questão de credibilidade é fundamental. A qualidade é essencial para a percepção do cliente final. O boca a boca de clientes especializados é importante e essencial. Temos de pensar como vamos conseguir, nos novos métodos de negócios, trabalhar entre governo e sociedade para achar um ponto comum, como tem acontecido no caso do Uber e os taxistas. Acho que a flexibilização seja uma saída.
Cláudia - a economia colaborativa é para todas as empresas?
Natura - eu acho que em algum grau será. Senão, não existiremos mais daqui a um tempo. Temos de aproveitar os ativos que já existem. Não tem como criar o tempo todo. A tecnologia tem um papel fundamental para que isso aconteça. Não é fácil mudar mindset. Há investimentos. Temos de nos conectar com outras redes fora da empresa. Inovações começam pequenas, mas nas redes se tornam muito grandes rapidamente. Vale a pena, economicamente, investir.
Cláudia - o top trend do Twitter é um concorrente para o Kantar Ibope?
Kantar Ibope - temos um produto com o Twitter, o ITTR, que consolida a audiência da TV com a audiência na rede social. Somos aliados e não, concorrentes. Vemos a relação com mídias digitais saudável, complementar.
Claúdia - nesse novo mundo de colaboração, de ter um apetite maior para o risco, tem espaço para pessoas de gerações anteriores?
Kantar Ibope - acredito que sim. Temos pessoas novas e mais velhas que trabalham juntas. Um agrega ao outro. É preciso ter uma boa interlocução com seu cliente final e essa interação é fundamental.
Natura - temos espaço na Natura sim. É uma combinação que não é simples, mas, se bem feita, dá bons resultados. Bagagem misturada com um “fazer diferente” é interessante.
Cláudia - podem citar exemplos de empresa tradicionais que avançaram muito na economia colaborativa?
Kantar Ibope - o ramo de pesquisa ainda é controlada pelas empresa tradicionais. O Survey Monkey, embora seja uma enquete, pode ser citada. Não é estatística, contudo. O Big Data também oferece uma grande gama de informações e as empresas estatísticas tentam extrair os melhores dados para pesquisas.
Natura - estamos na emergência das mudanças. O movimento tem sido encabeçado pelas startups. As grandes empresas não tinham o desapego dos ativos por conta própria. As empresas de serviços começaram a se mexer, criaram incubadoras, estabeleceram parcerias com startups. É um avanço.