A colaboração é intrínseca à sobrevivência
24/06/2016
Para a Professora Doutora Dora Kaufman, palestrante do CEG 2016, as redes vieram para ficar e transformar as relações sociais e de consumo
O Congresso FNQ de Excelência em Gestão (CEG), realizado em 22 de junho, em São Paulo, trouxe para debate, neste ano, o tema economia colaborativa, com a participação da Professora Doutora Dora Kaufman, estudiosa e especialista no assunto, que foi a primeira palestrante do dia e falou para uma plateia de mais de 300 pessoas.
Dora iniciou sua palestra com um questionamento. Quais os impactos das digitalizações na sociedade em geral e nas economias das empresas?
Não existe uma resposta estatística ainda, contudo, a era das redes digitais veio para ficar e modificar as relações sociais e de consumo.
De acordo com Dora, que trabalhou por 35 anos no mercado e voltou para o ambiente acadêmico há cerca de cinco, o ser humano possui uma tendência natural à cooperação. “Estou convencida de que a forma de compreender a complexidade do cenário atual só acontece com a interação entre academia e mercado, em forma de colaboração. Trabalhar sozinho não é mais possível”, afirmou. “Vale ressaltar aqui, contudo, que a colaboração não é um atributo humano e sim, da natureza, onde existem diversas experiências nesse sentido intrínsecas à sobrevivência”, comentou.
Em termos históricos, de acordo com a palestrante, foi na década de 60 que teve início um processo de colaboração na cadeia produtiva das organizações, o que, semelhante à natureza, passou a fazer parte da sobrevivência das empresas. “O advento das tecnologias digitais trouxe outra dimensão para as práticas colaborativas. Introduziu-se, a partir dele, a possibilidade de os usuários colaborarem em rede. Extinguiu-se a restrição do espaço e do tempo. Podemos colaborar com pessoas que não estão próximas fisicamente e essa superação é uma novidade. Como consequência dessas transformações, existe hoje uma economia híbrida, de pacto recíproco”, afirmou Dora.
A palestrante apresentou o conceito dos dois grandes conjuntos da economia colaborativa: a economia compartilhada e ocrouwdsourcing.
A essência da economia compartilhada é a questão do ACESSO versus a PROPRIEDADE. Paga-se pelo benefício e não, pelo produto em si.
Já o crouwdsourcing, proposto em 2006 por Jeff Howe, significa terceirizar uma atividade para a multidão: grande número de indivíduos heterogêneos, anônimos, com diversidade de contribuições. Neste caso, para “funcionar”, é preciso de uma plataforma do ponto de vista tecnológico, que pode ser conduzida de duas maneiras:
- sem intermediação de empresa, como por exemplo, articulações entre produtores agrícolas pelas redes digitais, onde o consumidor final compra;
- com intermediação de empresa, utilizada por organizações da nova economia e as tradicionais que, mesmo sendo diferentes em seus modelos de negócio, participam do sistema capitalista, onde o foco é o lucro. Exemplos: Facebook, Amazon.
De acordo com Dora Kaufman, nas empresas tradicionais, há vantagens e riscos associados quando se pensa em economia compartilhada:
- vantagens/benefícios - acesso às competências, ideias, recursos diversificados; redução de custo; estímulo à equipe interna;
- riscos/custos - tempo e esforço, implantação e gestão; insuficiente flexibilidade da linha de produção; amadorismo dos usuários das plataformas; custo de manutenção de equipe de seleção.
“Além de um novo modelo econômico, um novo fenômeno tem impactado as empresas tradicionais: o empreendedorismo. Quando você tem uma plataforma colaborativa, você atrai agentes inovadores e diminui custos”, pontuou Dora em sua apresentação. “Há uma tendência de transformação na forma de geração de valor para a sociedade e as redes digitais têm um impacto imenso nela e nas empresas”, completou.
No fim de sua palestra, Dora condensou sua apresentação em cinco grandes tópicos:
1 - a colaboração sempre existiu;
2 - não é restrita aos seres humanos;
3 - as tecnologias digitais mudaram a dimensão e a dinâmica do que já é uma prática ligada à sociedade, a colaboração;
4 - a economia colaborativa não é um segmento. São práticas diversificadas de vários modelos de negócios diferentes. Estamos em um momento de transformação gradativa na forma de se fazer negócio, de as empresas e as pessoas interagirem;
5 - as empresas tradicionais têm um grande desafio - como atuar nesse modelo? No modo tradicional, você controla toda a cadeia de valor, o que é incompatível com a economia colaborativa.
“Uma empresa tradicional não tem como transitar nas redes, que são flexíveis, descentralizadas, informais. Quando uma organização entra na rede, ela tem responsabilidade por tudo que publica e divulga. O grau de liberdade das empresas é infinitamente menor do que o das pessoas físicas. Essas dinâmicas é que devem ser pensadas nas organizações. Como se aproximar desse ambiente é o grande desafio para não perder mercado”, afirmou Dora. “A internet não é um nicho. Não vai acabar”, finalizou.