Leandro Karnal fez a palestra principal do Congresso FNQ de Excelência em Gestão
29/06/2017
Professor e filósofo falou sobre a crise ética no País e diz que há solução
Durante o Congresso FNQ de Excelência em Gestão, que aconteceu no dia 27 de junho, em São Paulo, Leandro Karnal, escritor, historiador e professor da Unicamp, foi responsável pela palestra principal do evento, “Ética e corrupção no mundo contemporâneo: tem solução” .
Leandro começou sua fala em tom de esperança, afirmando que “se é verdade que a corrupção é histórica e endêmica, a preocupação social com ela é muito recente”. Para ele, a sociedade está mais atenta e vigilante para os deslizes éticos do governo e do mundo corporativo e pede que não confundamos o governo brasileiro com o Brasil. É categórico ao afirmar: “o que está em crise é o modelo de gestão e não, a ideia de pátria”.
Durante sua palestra, que explorou o conceito de ética e sua aplicação histórica na civilização, Karnal explicitou a falta de comunicação e da percepção do outro como um dos motivos para a crise ética. “Nós começamos a conversa pela conclusão e esquecemos dos argumentos. Dessa forma, eliminamos qualquer tipo de diálogo.”
Ética na sociedade brasileira
De acordo com Leandro, não há país algum no mundo que tenha uma sociedade ética e um governo corrupto (e vice-versa). O Estado é o espelho da sua sociedade. Para Karnal, vivemos em uma sociedade narcisista e temos dificuldade em aceitar e perceber valor no que é diferente de nós, dificultando nosso diálogo e trabalho em comunidade por um ideal em comum.
Outro aspecto da nossa sociedade, apontado pelo professor, é o caráter passional do brasileiro Ele evocou o conceito de "homem cordial", do historiador Sérgio Buarque de Hollanda, e a nossa dificuldade de diferenciar o público do privado. Creditou também nossa crise ética à falta de transmissão de valores fortes e consolidados no ambiente familiar e educacional e pediu que superemos a cultura da gambiarra em busca de benefício pessoal.
Karnal, no entanto, vê uma saída nesse momento de crise e afirmou: “seres humanos não são perfeitos, mas somos perfectíveis e isso nos torna éticos. Somos moldáveis e podemos nos aperfeiçoar. Uma das características da ética é a inclusão do meu eu na responsabilização. As pessoas não se responsabilizam pelos seus atos". Para ele, ética não consiste em estar certo sempre e sim em identificar e assumir responsabilidades pelos seus erros e corrigi-los, aperfeiçoar-se. A falta de ética é quando somos complacentes e temos prazer pelo deslize.
Ainda falando sobre a postura do brasileiro em suas relações interpessoais, Karnal afirmou: “temos de nos policiar constantemente para não naturalizar nossa tradição escravista de nos vermos como diferentes e superiores que os outros. Ética é quando eu respeito o ser humano e não, a sua função ou cargo”. De acordo com Karnal, o trânsito é um termômetro da ética de um país. "Em todos os países corruptos, o trânsito é agressivo, misógino e homofóbico. O Brasil ocupa o 76º lugar no ranking dos países mais corruptos", afirmou.
A crise ética tem solução
Como solução para a crise ética, Leandro Karnal acredita que é preciso desenvolver um consenso sobre as regras e os valores e coerção para fazer valer o que foi acordado e punir o infrator. Também acredita no poder do trabalho para o desenvolvimento da ética e faz distinção entre emprego e trabalho “Emprego é o que eu faço para conseguir dinheiro, trabalho é o que me confere sentido e razão na sociedade”.
No final da sua palestra, o historiador afirmou que ética dentro das organizações é uma questão de sustentabilidade e acredita que empresas que investiram apenas em resultados e não tiveram cuidado com seus meios e recursos, hoje lutam pela sobrevivência. O professor afirmou que uma mudança de paradigma só será possível por meio da política. Mas, para atingir essa transformação, é preciso ressignificar a política em um trabalho diário, constante e consistente, “ética é bonsai, não é agronegócio”. Karnal encerrou sua palestra dizendo: “corrupção não é desagradável, ela é fatal e destrói a vida humana. Não sei se vamos melhorar, mas nunca estivemos tão perto da cura como estamos hoje”.