sexta-feira, 30 de junho de 2017

Congresso FNQ de Excelência em Gestão debate a ética nas esferas corporativas e pessoal

28/06/2017

Evento contou com a participação de representantes do governo, empresas privadas e encerrou com a palestra de Leandro Karnal

Acaba de acontecer, em São Paulo, o Congresso FNQ de Excelência em Gestão (CEG). Este ano, o evento se propôs a debater a Governança, Ética e Transparência nas organizações. 
 
Em um balanço geral, o CEG 2017 apresentou um consenso entre os participantes em relação ao atual turbulento cenário brasileiro: a ética nunca foi tão debatida na sociedade como hoje. Todos também concordaram que o dilema ético o qual estamos vivendo vai além dos mecanismos de controle disponíveis. No entanto, o clima de otimismo foi unânime entre os palestrantes e painelistas. “A crise gera oportunidades” foi, provavelmente, a frase mais falada durante o evento e inspirou confiança em um futuro melhor e mais ético para o nosso País.
 
Abertura
 
Osório Adriano Neto, presidente do Conselho Curador da FNQ, abriu o evento falando sobre a importância do tema para o atual momento do País e o papel da Fundação. "Em meio ao caos em que o Brasil foi inserido, nós, da FNQ, acreditamos que uma gestão voltada para excelência é o único caminho para a retomada da produtividade das empresas e, consequentemente, da competitividade do País. Nós - e quando falo nós, me incluo também, como empresário - temos de ser agentes motivadores da criação de uma agenda positiva", disse.
 
Jairo Martins, presidente executivo da FNQ, ressaltou que esta não é a primeira vez em que o tema ética é abordado em um Congresso da Fundação. Em 2010, o evento já incentivava essa discussão no meio corporativo. “O fato de termos de recorrer a esse assunto novamente significa que não se absorveu o que discutimos há sete anos. Sempre procuramos escolher temas relevantes para a realidade do nosso País, que possam contribuir para seu desenvolvimento. As manchetes de jornal desta manhã confirmam nossa escolha para o CEG 2017”, comentou Jairo. No entanto, o presidente da FNQ disse estar esperançoso. “Acho importante termos um pouco de indignação para nos motivar a mudar e, quem sabe, sairmos deste evento pessoas diferentes e melhores. O Brasil é a nossa tarefa e podemos mudá-lo por meio de nossa postura”.
 
Gestão corporativa da ética
 
Abrindo o circuito de palestras e painéis, Valdir Simão, ex-ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e ex-ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, foi o responsável pela primeira discussão do evento. Em sua palestra “Controle e gestão corporativa da ética: caminhos para uma governança eficiente”, Simão comentou o momento político pelo qual passamos e o impacto da Lei Anticorrupção no cenário corporativo brasileiro. “O que estamos vivendo não é o ápice da sujeira e sim, o início da limpeza”, disse Valdir ao começar sua reflexão. 
De acordo com o ex-ministro, a deflagração de novos escândalos incitam a necessidade por maior controle e vigilância. No entanto, alerta que o controle excessivo e obediência cega à ordem e à autoridade causam perda de discernimento na tomada de decisão. “Não estou dizendo que não concordo com os programas de compliance das organizações. Mas observo que as medidas de controle proliferam, sem controle. O importante é a relação e o tom desses direcionamentos", afirmou.
 
Para Simão, o problema da falta de ética nas organizações não está na falta de controle. "A nossa relação é tão burocrática que afasta o cidadão de bem do Estado. Por termos uma relação entre Estado e população tão complexa, nós permitimos que pessoas que querem fraudar, escondam-se atrás dos processos burocráticos". O ex-ministro reforçou que restaurar a confiança mútua entre público e privado, Estado e população são fundamentais para a recuperação do Brasil.
 
Confiança nos negócios
 
O primeiro painel do dia “Integridade: o valor da confiança para os negócios” teve a participação da Caixa Econômica Federal, representada por Simone da Conceição Pereira Rosa, Superintendente Nacional de Organização, Governança e Processos, da Eletrobras, representada por seu presidente, Wilson Ferreira Junior, e também da Petrobras, com a participação de João Adalberto Elek, Diretor de Governança e Conformidade.
Após cada painelista comentar um pouco sobre as políticas de compliance e as medidas que estão sendo tomadas para restaurar a confiança, integridade e transparência dentro de cada organização, um ponto em comum ficou claro: o otimismo em relação à crise que o Brasil enfrenta. 

Os executivos afirmam que esta é uma oportunidade de amadurecimento e reavaliação de valores, investimentos e processos. De acordo com os painelistas, em meio ao cenário desfavorável, desenvolvemos uma consciência coletiva, muito poderosa e criativa, que vai tirar as organizações da crise, além de torná-las mais fortes. “A crise limpa a ineficiência das empresas”, afirma Simone.
 
Durante o painel, cada participante também explicou como suas organizações fizeram para resgatar a confiança de seus clientes e investidores após terem sido envolvidas em atos de corrupção.
 
Governança e ética
 
O segundo painel do dia, “Como fortalecer a governança por meio de práticas éticas e transparentes”, teve a presença do Grupo Promon, do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, da Votorantim Cimentos e da Sabesp, representados, respectivamente, por Bruno P. Bandarovsky, Deborah Virgínia Macedo Arôxa, Ana Luísa Pinheiro e Silvio Valdrighi.
Ao abordar a importância das políticas de controle para manter uma organização ética, os painelistas ressaltaram que o compliance deve ser eficiente e devemos tomar cuidado para que o processo não paralise ou engesse o dia a dia das empresas. Políticas simples e claras que possam orientar os funcionários são a chave de sucesso para um bom programa de compliance.
 
Ética no dia a dia
 
A palestra principal do evento, que encerrou o Congresso FNQ de Excelência em Gestão, foi ministrada pelo professor e historiador Leandro Karnal. 
 
O professor confirma o título da sua palestra “Ética e corrupção no mundo contemporâneo: tem solução” com sua frase de abertura: “Se é verdade que a corrupção é histórica e endêmica, a preocupação social com ela é muito recente” e lembra que já superamos crises tão difíceis quanto essa. “O que está em crise é o modelo de gestão e não, a ideia de pátria. Nunca devemos confundir o governo brasileiro com o Brasil”, afirma.
Karnal acredita que a falta de ética está diretamente ligada à falta de percepção das pessoas e da inclusão do “eu” na responsabilização dos nossos atos e aponta que o trabalho é o caminho para uma vida ética. "Não somos perfeitos, mas somos perfectíveis. Somos moldáveis e podemos nos aperfeiçoar. Uma das características da ética é a inclusão do meu eu na responsabilização. As pessoas não se responsabilizam pelos seus atos."
 
E finaliza dizendo: "Não há país no mundo que tenha uma sociedade ética e um governo corrupto (e vice-versa). No Brasil, é preciso superar a cultura do jeitinho e da gambiarra. Ética é banho diário. A ética é um esforço diário. É a primeira vez que a ética está na voz do País."

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