terça-feira, 28 de agosto de 2018


NESTE DIA DO VOLUNTÁRIO

PARABÉNS A TODOS OS VOLUNTÁRIOS QUE FAZEM PARTE
DO COMITÊ SETORIAL GESPÚBLICA / RS


28 DE AGOSTO DE 2018
INDICADORES - Ricardo Felizzola

O fundamental na Educação


Japão e Coreia do Sul são exemplares no ensino básico e isto é importante causa do progresso daqueles países. Por 10 anos fui professor e posso afirmar que educar é um processo complexo no qual os resultados dependem de capacidade didática e disciplina. Fala-se muito da revolução no ensino, com uso de novas tecnologias e computadores, e que as crianças, para enfrentar os desafios de hoje, devem aprender a ler e escrever perfeitamente, além de muita matemática e ciências. Isso é realmente necessário.

Nas escolas asiáticas, porém, observa-se que existe algo mais e há mais tempo: um esforço enorme em ensinar disciplina. O conhecimento humano só prospera com disciplina. Nesse caso, é famosa e muito aplicada nas empresas industriais (ensinando-se colaboradores já adultos no Brasil) a técnica dos cinco sensos (5S): o de limpeza, organização, utilidade, asseio e hierarquia. Lembro de ter aprendido isso já com mais de 30 anos de idade na minha primeira empresa. Educávamos funcionários para estabelecer uma base na qual pudéssemos evoluir com os conceitos de qualidade, isso na década de 1990.

Ora, os japoneses e coreanos ensinam o "5S" na escola fundamental para as crianças de cinco a sete anos que aprendem a não sujar, para aprimorar a limpeza nos ambientes, a procurar um lugar para cada coisa e colocar cada coisa no seu lugar em termos de organização de um espaço. Aprendem utilização, descartando o que não é usado e diminuindo, assim, o número de itens a serem organizados. 

Aprendem a lavar as mãos, a escovar os dentes, banhar-se, vestir-se e pentear-se, compreendendo o asseio e, por fim e muito importante, aprendem que, na vida, a hierarquia não pode ser confundida com submissão e, sim, é uma forma de adquirir conhecimento através de um comportamento regulado pelo respeito aos mais velhos, entendendo que eles, por terem mais sabedoria, vão seguir de guia para a evolução individual de cada um.

No debate eleitoral, citam-se os colégios militares como exemplo tangível de boa educação no Brasil, e há de se concordar. Ali, desenvolvem-se hábitos que minha geração, nos anos 1960, aprendeu em escola pública quando, uniformizados, fazíamos, diariamente, ordem unida para entrar em aula depois de ter cantando o Hino Nacional. Por que isto acabou? Nos tornamos um país melhor por abandonar os fundamentos da hierarquia?

Ricardo Felizzola escreve às terças-feiras, a cada 15 dias.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

O País que queremos ou o País que precisamos? Um plano de gestão para o Brasil


Por Jairo Martins, presidente executivo da FNQ

As eleições presidenciais se aproximam. Alianças, conchavos e coligações entre políticos descreditados e a vergonhosa quantidade de 35 partidos, com base no oportunismo, definem os seus candidatos. O povo faz uso das mídias sociais e posta mensagens e imagens sobre “que País que queremos”. Educação, saúde, economia, empregos, bem-estar, segurança, infraestrutura, honestidade e melhor uso dos recursos continuam a ser os itens mais requisitados. Por sorte dos dirigentes atuais, o brasileiro é, por natureza, paciente e resiliente.

Os mais bem informados têm uma visão mais realista do caos no qual estamos inseridos, capazes de perceber a quase falta de opções, pois as alianças focam apenas o poder, ignorando que, quase de forma unânime, os partidos estão podres, infestados de corruptos, indiciados ou condenados pela Lava-Jato, pelo Mensalão e por outras iniciativas saneadoras. O restante dos eleitores, mais de 60 milhões, ainda não sabe em quem votar - é um estado de profunda desesperança. Preocupa-nos, entretanto, que pela falta de informação, rendam-se a discursos populistas e vazios, que foram os responsáveis pela indigência - econômica, social e ética - na qual nos encontramos: os salvadores da Pátria!
 
Preventivamente, a FNQ, cumprindo o seu propósito de transformar o Brasil pela boa gestão das suas instituições, organizações e empreendimentos, vem prestar dois serviços: alertar a população sobre o que mais afeta o desenvolvimento do País e apresentar um plano de gestão aos candidatos, para que, de uma vez por todas, incorporem esses objetivos aos seus planos de governo e de Estado, priorizando o Brasil e não, a sua avidez de poder e de dinheiro sujo.
 
Ora, os fundamentos da boa gestão estão disponíveis - não precisam ser reinventados, é questão de querer ou não usá-los: tudo começa com uma Liderança Transformadora(governantes, empresários, gestores e líderes comunitários) que, com um Pensamento Sistêmico (olhando o País como um todo e não apenas as suas paróquias eleitorais e interesses empresariais setoriais e comunitários) e Compromisso com as Partes Interessadas (sociedade, população, empresas, instituições e organizações) busque oDesenvolvimento Sustentável do País (economicamente viável, socialmente justo, ambientalmente responsável e eticamente correto). 

Como os cenários mudam, cada vez mais, de forma imprevisível e acelerada, é imprescindível ter uma clara Orientação por Processos (governos, organizações e empresas bem estruturadas), conduzidos por profissionais capacitados (e não por políticos despreparados e mal intencionados), que sejam capazes de promover a Adaptabilidade (com flexibilidade e sem burocracias procrastinadoras) e as transformações necessárias, na velocidade que a dinâmica do ambiente exige, pondo em prática o Aprendizado Organizacional e a Inovação (com educação e instrução de excelência) para tornar o País competitivo, respeitado e íntegro. Só com trabalho competente conseguiremos a Geração de Valor (as boas entregas geradas com a boa gestão dos abundantes recursos que temos), da qual tanto carecemos. 
 
Nesse sentido, oferecemos a plataforma listada a seguir, como Plano de Gestão para o Brasil, não apenas aos candidatos, mas, principalmente, aos eleitores, para que exerçam o seu dever de votar em pessoas capazes e sérias, as quais priorizem as nossas urgentes necessidades:   
     
Resgate dos valores e da responsabilidade coletiva;
Alinhamento público – privado, com governança e ética;
Intolerância à corrupção e à impunidade;
Redução da complexidade econômica;
Fim do “coronelismo político-familiar”;
Despolitização da gestão, da justiça e da governança;
Educação, saúde e segurança como programas de Estado;
Infraestrutura como plataforma do desenvolvimento;
Execução das reformas previdenciária, tributária, administrativa e política;
Redução do tamanho do Estado;
Gestão pública competente;
Modernização industrial, sem protecionismos paralisantes;
Abertura comercial, exportação e internacionalização; 
Recuperação da reputação e da confiança interna e externa.
 
Para termos um País melhor e digno, é preciso que cada um de nós seja responsável, fazendo escolhas corretas, pois a nossa situação é emergencial, não havendo mais espaço para populistas, aventureiros, corruptos, estelionatários eleitorais, mentirosos e covardes.
 
Infelizmente, chegamos ao ponto em que não podemos mais buscar “que País queremos”, mas “que País precisamos”.
O Brasil é a nossa tarefa!  
 

O processo de coaching pode ser perigoso | Não Me Iluda!

coaching
Abaixo, compartilho com vocês o primeiro capítulo do livro “Não Me Iluda!”, lançado em 2017. Boa leitura!-
Minha carreira pública começou com o trabalho de coaching. Fui o primeiro autor brasileiro a escrever um livro de casos reais de processos de coaching de vida. Naveguei em uma espécie de onda que surgiu em torno desta profissão e, durante muito tempo, minhas palestras e entrevistas na imprensa eram focadas em explicar as funções de um coach, as técnicas e os resultados esperados.
Mas, assim como pude ver todo o crescimento deste mercado, infelizmente também pude acompanhar o rumo que tomou. As formações que inicialmente eram de muitas horas e exigiam estágio comprovado, através de entrevistas com os clientes, passaram a ser de poucas horas, sem nenhum tipo de avaliação. Na verdade, a formação de coaching nunca foi longa, pois a ideia original, acredito, nunca foi criar uma onda de novos profissionais, e sim de novas ferramentas. Mesmo assim, vivenciei uma época em que haviam poucas escolas de formação, e estas eram realmente muito mais sérias. Os professores assistiam às sessões de coaching dos alunos, haviam provas no final sobre as teorias e as ferramentas e, principalmente, era necessário comprovar horas de atendimento qualificado (com aprovação do cliente) para poder sair se intitulando coach.
Não havia a falsa promessa de que tínhamos encontrado a profissão que mudaria o mundo e nos deixaria ricos
Não havia a falsa promessa de que tínhamos encontrado a profissão que mudaria o mundo e nos deixaria ricos. O foco era no cliente, e não no ego do coach, como uma espécie de super-homem dos tempos modernos. Surgiram no mercado dezenas de especificações de coach. Nada contra alguma pessoa em específico, mas confesso que me chama a atenção quando vejo coach para emagrecimento, coach para grávidas, coach sexual, coach para idosos. Uma hora vai surgir o coach para leitores de livros, prepare-se! A própria expressão “coach de vida” (que por muitos anos utilizei) agora já questiono. Fica uma confusão para o cliente.
Um dos momentos que me marcou foi quando descobri que existia o “coach dos coaches”. O mercado ruiu. Toda e qualquer pessoa, independente de sua formação e experiência, estava virando coach. A profissão não é regulamentada, e isso permitiu que muitas pessoas, sem a menor habilidade interpessoal, se tornassem especialistas em ajudar os outros. E, por fim, havia ficado mais fácil ganhar dinheiro dando formação de coaching do que atuando como tal.
Havia ficado mais fácil ganhar dinheiro dando formação de coaching do que atuando como tal.
Como pode alguém dar formação nesta área sem, ao menos, ter feito alguns atendimentos? Graças ao meu empenho e à séria dedicação ao assunto, eu sou um coach com agenda lotada e clientes em fila de espera. Mesmo assim, não me sinto capacitado para ensinar aos outros como devem atender. Isto é muito mais profundo do que ajudar um cliente, isoladamente, a resolver ou aprimorar alguma questão pessoal. Pelo menos deveria ser.
Estive em eventos com centenas de pessoas batendo palmas, pulando das cadeiras, dando gritos de guerra. Corriam sobre as brasas e se abraçavam falando frases, quase mantras, dos seus superpoderes para mudar a vida dos outros. Mas o que me chamava a atenção era o fato de que ali naquele grupo poucos, pouquíssimos, haviam conseguido arrumar as suas próprias vidas. Mais raros ainda eram aqueles que possuíam um histórico de clientes que tivessem completado com sucesso o processo de coaching.
Hoje, olhando para trás, penso que um dos motivos do sucesso do meu primeiro livro (O Encantador de Pessoas, 2013) foi justamente porque não segui a linha de escrever um livro para dizer como as pessoas deveriam viver, e sim compartilhei diversos casos reais de clientes que se dedicaram, profundamente, a realizar uma mudança em suas vidas. Na época era, e ainda é, raro ver coaches falando dos seus atendimentos. A maioria quer apenas dar as receitas e as fórmulas para a vida abundante em tudo aquilo que todos nós desejamos.
Não gosto quando vejo promessas do coaching como a única forma de autodesenvolvimento ou, pior ainda, o único caminho para se tornar uma pessoa de sucesso.
Conheci o coaching por volta do ano de 2004, enquanto fazia um curso de pós-graduação em Psicologia na área de Análise Transacional. Uma das professoras era, na época, a maior referência do assunto no Brasil (até porque dava para contar nos dedos o número de profissionais que recebiam este título). Quase não havia livros sobre o assunto, mas me parecia encantador pela sua objetividade. O coaching me foi apresentado como uma ferramenta extra aos trabalhos ligados ao comportamento humano. Anos depois, fiz uma formação específica em uma entidade do Brasil e um curso com outra de Portugal. Não sei se foi porque minhas formações foram anteriores a esta explosão comercial, mas meus estudos do processo de coaching nunca tiveram uma conotação tão forte no aspecto motivacional. Conheci diversas ferramentas ótimas, das quais muitas delas ainda utilizo até hoje. Gosto muito do princípio de que o processo de coaching é fazer perguntas, orientar um plano de ação e trabalhar com foco no presente e futuro. Mas não gosto quando vejo promessas do coaching como a única forma de autodesenvolvimento ou, pior ainda, o único caminho para se tornar uma pessoa de sucesso.
Quando penso na psicologia tradicional, como pode alguém que fez uma formação de 20 horas saber mais do que alguém que estudou por, no mínimo, cinco anos? É assustador ver coaches querendo ocupar lugar de psicólogos, filósofos, historiadores, psiquiatras. Para falar a verdade, hoje acredito que coach nem mesmo deveria ser uma profissão, e sim apenas uma formação complementar. Por exemplo, há pessoas formadas em Administração de Empresas, com ênfase em Marketing. Isto seria mais justo e coerente. Uma formação em alguma área das ciências humanas, com ênfase em Coaching. Mas nada foi regulamentado. Infelizmente, qualquer um pode se dizer um coach.
Para falar a verdade, não precisa nem mesmo de formação. Basta você achar que tem condições para isso. Você pode, por exemplo, resolver dizer que é coach para pais, pois agora você tem filhos, e todos os seus amigos que leem as suas dicas e percepções são agora seus clientes. Sabe o que vai acontecer? Nada. Ninguém pode impedir isto. Mas se você enfeitar um pouco mais, uma coisa vai acontecer: você vai ganhar algum cliente disposto a comprar a sua fórmula de como ser um bom pai ou mãe. Mas isso está longe, muito longe, do que seria realmente o processo de coaching. Na realidade, me enjoa ver as coisas desta forma. Os desesperados questionam pouco. Contratam apenas por alguma imagem que se formou em suas mentes. Se é verdade e se funciona, já é outro aspecto, nem sempre pesquisado.
E, infelizmente, não me parece uma distorção somente no Brasil. Por aqui eu não tenho a menor dúvida e posso dizer com muita propriedade que a profissão de coach seguiu um caminho distorcido. Mas, minha pequena experiência na Europa, seja como estudante, como palestrante ou como pesquisador, mostrou que o coach também começa a ser questionado lá fora. Talvez, a grande diferença é que lá ainda não tenha ocorrido uma explosão de escolas de formação esta promessa de que ser coach é ficar rico, famoso e ainda, de quebra, melhorar a vida de centenas de pessoas, ainda não tenha se consolidado.
Não me iluda! Quando vejo uma chamada do tipo “sou coach e vou mudar o mundo”, traduzo isso de outra forma. Para mim há uma mensagem quase subliminar de uma promessa de uma profissão superpoderosa. Depois de estar anos neste meio, posso afirmar: coach não tem nenhum poder paranormal. Não somos capazes de mudar as pessoas somente porque nós queremos – e não, não temos como mudar o mundo inteiro.
Não há técnica que possa mudar alguém que não esteja disposto a mudar.
Outra coisa que me chama a atenção é quando uma pessoa ensina aquilo que ela mesma nunca investiu tempo e dinheiro para aprender e colocar em prática. Isto não é uma regra, mas uma constatação que sempre me deixa pensativo. Um psicólogo que nunca fez terapia? Um nutricionista que nunca seguiu um plano nutricional? Um cardiologista que nunca investigou seu próprio coração? E como ficam os coaches que nunca fizeram coaching? Embora eu saiba que este tipo de situação ocorre em todas as profissões, me sinto um pouco inquieto quando vejo isso na área comportamental.
Faço terapia há quinze anos e fiz o processo de coaching por duas vezes, com profissionais diferentes. Sei qual é o sentimento quando somos questionados, confrontados, acolhidos, escutados. Aprendi a reconhecer a dificuldade que podemos ter para nos abrirmos a alguém ou até mesmo a ganharmos consciência sobre um assunto ao qual temos resistência. Além de ter tido experiência sendo cliente de coaches e psicólogos, eu também conheci religiões, me relacionei com mestres espirituais e participei de muitos eventos com gurus de assuntos relacionados aos dilemas da vida. E, de prático, tenho somente uma única certeza: não há certezas na vida! Não existe caminho que possa prometer a salvação. Não há técnica que possa mudar alguém que não esteja disposto a mudar. E não existe processo rápido para algum desejo profundo.
Se você, leitor, pretende fazer uma sessão de coaching comigo na esperança de que eu mude a sua vida, lamento lhe informar, mas não vou. Não posso lhe prometer uma nova vida em quinze sessões. Não posso lhe garantir sucesso e felicidade. Não posso sequer lhe prometer que você não questionará se valeu a pena investir seu tempo comigo. O que posso lhe oferecer é a minha atenção, meus estudos e meu desejo de poder lhe ajudar a caminhar. E esta é a promessa mais sincera que posso lhe fazer.
Mas por que disse no título deste capítulo que o processo de coaching pode ser perigoso? Simples: quando a promessa é salvadora, a chance maior é que o consumidor seja aquele que está à espera de ser salvo. E é grande o risco dos coaches se sentirem pessoas superiores e tratarem seus clientes como se estivessem em uma posição inferior.
Coach não é guru.
Coach não sabe todas as respostas.
Coach não é alguém que vai lhe ajudar a caminhar sobre as águas.
Coach é um apoio. Talvez em algum momento um apoio muito importante. Mas um apoio. Um profissional com ferramentas e um olhar para te ajudar a ter consciência da sua própria jornada. O resto é ego, marketing, imagem, projeção, fantasia etc.
Também conheci muitos profissionais extremamente qualificados neste segmento e que estavam tão ou mais incomodados do que eu com o rumo que este mercado tomou. Porém, infelizmente, sempre me pareceram minorias nos meios em que circulei ao longo da jornada de trabalhar com desenvolvimento de pessoas.
Todo processo de mudança que não venha verdadeiramente de dentro costuma não se sustentar. E, pelo menos na minha formação, nunca foi papel do coach moldar o cliente para viver da forma como o profissional acredita que ele deva viver. Percebi muita gente se tornando aquilo que seus coaches queriam que eles se tornassem. Muita gente vibrando na energia motivacional dos seus coaches até o minuto seguinte onde se deparavam com os medos, as frustrações e as decepções da vida real. Muita gente se sentindo segura por causa de uma mensagem, e não pela própria experiência.
Provocado por um amigo, em determinado ponto da minha carreira, resolvi contabilizar o percentual de clientes que haviam encerrado o processo comigo de uma forma assertiva. Utilizei como conceito de que “assertivo" é quando o cliente chega no lugar que ele dizia, no início do processo, que gostaria de chegar. Ao calcular, descobri que apenas 35% dos clientes chegavam a este ponto. Era um número muito mais baixo do que os impressionantes números que este mercado gostava de estampar nas capas de revistas e redes sociais. O estranho é que eu seguia com agenda lotada e clientes em fila de espera. Não exponho o fato para me gabar ou algo do gênero. Minha intenção é simplesmente mostrar que muitos processos podem ser úteis na jornada de qualquer pessoa, sem terem esta associação direta com as metas e os indicadores de performance. Não atingir uma meta nem sempre significa fracassar.
Além disso, também tive alguns clientes que voltaram ao meu escritório alguns anos depois de terem encerrado seus processos comigo. Muitos deles estavam naquela estatística dos 35%, mas compartilhavam comigo como suas vidas haviam continuado após o término do processo. Alguns deles estavam me procurando apenas por estarem diante de novos desafios, outros porque tinham percebido que as metas alcançadas não foram garantia de felicidade, ou ainda aqueles que tinham pago um preço tão alto para atingir suas metas que agora precisavam de ajuda para ajustarem a vida.
Lembro de um cliente que, anos antes, havia feito o processo comigo focado no seu desenvolvimento profissional e no crescimento da sua empresa. Diversas vezes, eu o conduzi a refletir sobre possíveis perdas e renúncias que poderiam ser necessárias para que seu plano desse certo. Ele estava disposto a encarar tais desafios. Meses depois, nosso trabalho de coaching encerrou diante da possibilidade real de venda do seu negócio. Como todo processo de venda, isso exige muita dedicação e costuma ser algo com alto risco de distração de outros tantos assuntos relevantes. Juntos decidimos que ele havia chegado a um ponto muito importante (e desejado) e que agora precisava de outro tipo de ajuda.
Dois anos depois, ele voltou a me procurar. A empresa ainda não tinha sido vendida, e a negociação seguia em andamento. Mas agora o casamento dele estava de mal a pior. Naquele intervalo de tempo, a dedicação dele ao trabalho tinha sido tão grande que ele havia se afastado demais da parceira. Retomou o processo comigo justamente para tentar encontrar uma forma de equilibrar todos os aspectos da vida.
Coach é um companheiro de viagem, mas não é a viagem em si.
Nenhum cliente que passou pelo meu trabalho se tornou feliz para sempre. Nenhum cliente se tornou um vencedor eterno. E nenhum cliente escapou da trágica realidade de um dia voltar a tropeçar.
Mas são clientes como estes que me fazem refletir o quanto as promessas de certos profissionais do coaching podem ser perigosas. A vida é muito mais ampla e sistêmica. As demandas e as jornadas de tantas pessoas que pude acompanhar me comprovaram que as coisas são muito mais complexas do que ferramentas isoladas. Nada, absolutamente nada, parece-me mais eficaz do que cada um caminhar os próprios passos. Coach é um companheiro de viagem, mas não é a viagem em si.
Também recebi a procura de clientes antigos que não estavam no “grupo dos clientes com final assertivo” e que estavam voltando, pois tinham ficado tão decepcionados consigo mesmos que, naquele momento, estavam dispostos a “tentar" novamente. Todos estes relatos me motivaram a fazer um profundo olhar sobre o ser humano, seus desejos, suas jornadas e onde verdadeiramente o processo de coaching pode atuar.
Aqui do meu lugar, ainda como um coach, convido você a não delegar sua felicidade para nenhum profissional. Não acredite na fórmula mágica. E não caia na ilusão de que os coaches são pessoas de alta performance todos os dias. Aliás, há dias em que dá uma preguiça de ir para o escritório atender! Ops, não poderia dizer isto publicamente. Coaches não sentem preguiça. Há dias em que dá um medo que o cliente não esteja gostando! Ops, não poderia dizer isto também. Coaches não sentem medo. Há dias em que eu não faço a menor ideia do que posso dizer a um cliente! Ops, não poderia dizer isto novamente. Coaches sabem tudo. Não me iluda!
No meu ponto de vista, o que realmente um bom coach pode lhe prometer? Ferramentas para ampliação de consciência e elaboração de um plano de ação, foco no presente e olhar no futuro, vontade de ver o coachee (nome pelo qual o cliente é chamado) dando seus próprios passos rumo àquilo que deseja, uma boa habilidade de escuta e observação e uma grande capacidade de fazer perguntas que oriente o enfrentamento dos próprios medos e das dúvidas. E as demais promessas? Bem, assim como as promessas que descrevi acima, cabe a você acreditar ou não.-
Este é o primeiro capítulo do livro “Não Me Iluda!”, lançado em 2017 pela Integrare Editora. 

Ele pode ser encontrado nas principais livrarias do país
1. Saraiva
2. Livraria Cultura
3. Submarino
4. Americanas
5. Amazon

Não quero “mais”

nao quero mais
Já percorri o caminho que outros tantos já percorreram, uma parte ainda quer e uma minoria desistiu de percorrer. Andei anos na estrada do “mais”.

Corri para ter mais dinheiro, mais status, mais poder. Quis ter o carro “mais”, a empresa “mais”, a casa “mais”.O interessante é que quando iniciei nesta estrada, as primeiras conquistas “mais” propiciaram uma imensa experiência de felicidade. E aí começaram a se formar crenças que foram me deixando cada vez mais refém desta mesma estrada. Acreditei que se eu estava feliz no km 10 desta rodovia, eu estaria ainda mais feliz no km 20. E desta forma, eu acelerei rumo ao “dobro mais”.

E assim, cheguei. Cheguei mais e ultrapassei. Fui no km 20, no 30, no 40… Andei, andei e andei. Fiquei longe do fim desta estrada e confesso que até hoje ainda não aprendi se ela tem mesmo algum ponto final. Mas também fui longe o bastante para perceber que o meu grau de felicidade real (e não aquela que aparentamos nas redes sociais) estava cada vez “menos”.

Então resolvi criar a minha própria rota. Não é a rota mais romântica, nem a rota mais charmosa. Não está na revista Caras nem no guia “10 rotas para se conhecer antes de morrer”. Está na minha mente, no meu coração e na minha fala com as pessoas que são importantes para mim.

É uma estrada de chão batido. E para quem já se acostumou a andar em altas rodovias, o início parece muito estranho. Me surpreende que é uma rodovia cercada de “menos”. Menos pressão, menos cobrança, menos crítica. É um caminho onde fofocamos menos, julgamos menos e nos permitimos menos sacrifícios. Nele há menos marcas, menos glamour, menos troféus. Me espanta ver, infelizmente, que nele também há menos torcida.
Assim como da outra vez, ainda não percorri a estrada toda. Com frequencia me pego querendo dirigir da mesma forma que dirigia na rota “mais” e me esqueço que aqui se dirige diferente. Em outros momentos preciso usar da minha disciplina para me adaptar a ser “menos” para então ser mais.

Ainda não sou um motorista altamente qualificado para a estrada do “menos”, mas já não me vejo voltando para a estrada do “mais”. Ainda tenho muito o que aprender com a estrada do “menos”, mas o caminho é prazeroso e compensador.

Nesta rota em que eu reflito, aprendo e me adapto, eu também percebo que tudo é diferente. Fico menos tempo no computador e mais tempo abraçado na minha mulher. Menos tempo lendo notícias e mais tempo brincando com meu filho. Participo de menos reuniões e pratico mais os meus hobbyes. Me proponho a ganhar menos dinheiro, mas aprendo a usa-lo melhor. Mando menos e-mails de cobranças e mais recados de saudades. Digo menos “você deveria” e mais “você é importante para mim”. Valorizo mais uma xícara de café, uma conversa com amigos, uma piada engraçada, um carinho repentino. Me permito mais, me culpo menos.
Admito que ainda não estou 100% lá, mas esta é a minha rota. Aquela que eu escolhi para percorrer nesta vida.
Alguns amigos acham que enlouqueci, ou que até mesmo, pasmem, mudei minhas preferências sexuais. Não julgo eles. Quando andava nas glamourosas rodovias, eu nem mesmo sabia que era possível montar a própria rota. E uma coisa eu preciso confessar, andar na estrada do “menos”, por mais paradoxal que seja, dá muito mais trabalho. Afinal não temos placas de sinalização do tipo “compre e seja feliz”. Não temos guias. E mesmo para aqueles que já percorreram este tipo de rodovia, eles não podem me ajudar pois a rota é minha e apenas eu posso compreende-la.
Nesta nova estrada eu não viro notícia. Pouquíssimos me aplaudem e muitos não me compreendem.
Mas a estrada do “menos” me traz muitas coisas mais. Conforme vou percorrendo, tenho mais saúde, mais momentos com as pessoas que amo e mais permissão para os momentos que me fazem feliz. Agora tenho mais tempo para ficar comigo e por consequência, pensar em mim. Nesta estrada me conecto mais com pessoas, coisas e experiências que terei orgulho de contar que foi a minha história, a minha escolha. Quando eu for velho e meus netos quiserem saber que estrada eu percorri, direi apenas que foi a minha estrada e que não me arrependo de ter abandonado a estrada do “mais”.

A estrada do “menos” se apaga a cada km percorrido, de forma que cada um precisa percorrer a sua. A estrada do “mais” é a estrada dos outros. A cada novo km na estrada do “menos”, um pedaço do “mais” também se apaga. Não sei onde exatamente esta rota do “menos” vai me levar, mas uma coisa eu posso afirmar: não quero “mais”.

Esta tal felicidade

essa tal felicidade
Tenho percebido que muita gente murcha ao longo da vida. É triste ver pessoas que pararam de brilhar, de desejar, de gargalhar. Estas pessoas não nascem assim, elas se tornam isto. A loucura por atender expectativas sociais afastam elas de fatos e estilos muito mais relevantes e impactantes na sua felicidade.
Na minha jornada, não trabalho querendo definir o que é felicidade. No meu primeiro livro (O Encantador de Pessoas) ainda havia um desejo interno meu de tentar encontrar uma resposta coerente para os conceitos de felicidade. Porém, eu andei e não estou mais lá hoje. Já entendi que jamais chegaremos nesta resposta. Qualquer coisa que eu defina, estarei falando da minha felicidade e não da sua. E assim tem sido muito mais fácil ajudar aos meus clientes, fazendo com que primeiro de tudo, eles mesmos possam definir o que é felicidade, no tempo presente.
A própria antiga questão se dinheiro traz ou não felicidade, percebi que a opinião sobre ela mudava de acordo com o meu momento de vida. Pergunte isto a quem está muito bem financeiramente, e resposta deverá ser negativa. Porém, pergunte a quem está endividado e provavelmente esta pessoa lhe responderá que dinheiro traz felicidade. Ou seja, não existe conceito social. Existe você, suas escolhas e seu momento de vida.
Não existe mudança sem mudar.

Muitas vezes vejo que as pessoas estão carentes de ampliar seus lados bons. Vivemos em um modelo crítico que deixa pouco espaço para valorizar os bons valores, boas práticas, bons momentos, bons resultados. A busca frenética por sempre mais nos impede de enxergar onde já chegamos.
Todo processo de mudança que oriento à pessoas, seja em atendimento individual ou trabalhos em grupos, o ponto de partida são sempre as dúvidas, inquietudes, possibilidades. É muito importante gerar opções para ampliar consciência e assim cada um definir pra si próprio o conceito de felicidade que deseja utilizar como norteador.

O super valor do esforço

o super valor do esforço
Entre a pessoa que hoje somos e a pessoa que queremos ser, existe um intervalo de tempo que não pode ser ditado por outra pessoa do que pelo próprio indivíduo em questão. E é preciso entender que neste fluxo de tempo, que é muito mais emocional do que cronológico, passamos a maior parte do tempo deixando de ser quem não queremos mais ser para somente depois nos tornarmos quem estamos buscando ser. Deixamos de ser para depois ser. Este é o movimento da mudança interna, e este caminho precisa ser compreendido e ao mesmo tempo agradável e reconhecido.
Mas percebi nestes últimos anos que este caminho nem sempre é fácil de ser compreendido. Temos dificuldade de percorrer. Temos dificuldade de valorizar os passos que estamos dando. Quando “chegamos lá” o “lá” não está mais “lá”. Ele se move e isto dá dinamismo à vida! Mas é preciso reconhecer que um dia nós desejamos estar onde estamos. Isto não é uma regra, obviamente, afinal a vida pode nos levar para locais dos quais não gostaríamos de estar. Mas em um panorama de escolhas conscientes e atitudes, a grande maioria dos locais onde estamos um dia foram desejados. Reflita o quanto da sua vida, no tempo presente, já foi desejada no passado. E você comemora isto? Reconhece?
Acredito que um dos pontos que dificulta este reconhecimento seja o hábito do ser humano valorizar o esforço de forma exagerada. É claro que o esforço tem valor e todos nós temos orgulho de termos nos esforçado para algo que conquistamos. Portanto, antes de mais nada, quero deixar claro que reconheço o valor do esforço. Porém, ele não pode ser maior do que o valor da conquista. No meu ponto de vista, a vitória é sempre maior do que o esforço. E nós vivemos em um modelo social onde o esforço é sempre admirável. Comemoramos o esforço e esquecemos de comemorar as conquistas. Temos orgulho do esforço e diminuímos a importância da vitória.
A pessoa que chega no meu escritório alegando que está cansada de sofrer, que não quer mais se esforçar tanto para uma vida melhor, é a mesma que valoriza os demais pela quantidade de suor derramado. O problema é que quando valorizamos o esforço, tendemos a dificultar a vida para que assim ela possa continuar necessitando de tamanha dedicação e energia nas soluções dos dilemas.

Ser feliz é simples, mas ser simples é muito difícil. De forma geral, todo ser humano busca uma vida mais simples (que é diferente de uma vida simplória), mas não se dá conta de que ao valorizar o esforço, fica na contramão de uma vida simplificada. Que esforço contaremos ao conseguirmos simplificar o nosso dia a dia? Esta é a questão que você precisa entender para abrir sua mente ao novo e assim conseguir uma vida mais satisfatória.

sábado, 11 de agosto de 2018


FELIZ DIA DOS PAIS para todos os Papais.
Uma homenagem do Comitê Setorial Gespública / RS

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Cidade biofílica: integrando a natureza ao planejamento urbano

CIDADE BIOFÍLICA: INTEGRANDO A NATUREZA AO PLANEJAMENTO URBANO

Amor pela vida. Este é o significado literal do termo popularizado em 1984 pelo ecólogo americano Edward O. Wilson: Biofilia.


Philia = amor

Bonito, né?

Além de bonito, o termo é utilizado por diferentes campos. Foi utilizado inicialmente na área de estudos psicanalíticos, para descrever a atração por tudo que é vivo.

Na perspectiva científica, a biofilia é compreendida como a atração pela natureza como um princípio evolutivo. No campo da filosofia o termo também tem um forte significado que reflete sobre a interação da natureza com os seres humanos.

Para este texto, vamos cruzar os campos que utilizam o termo para explicar sobre as cidades biofílicas e porque a tendência de integrar a natureza ao cenário urbano é uma orientação forte dentro do planejamento urbano do futuro.

O pesquisador estadunidense Timothy Beatley, autor do livro BiophilicCities: Integrating Nature into Urban Design and Planning, foi um dos primeiros estudiosos do assunto a aplicar a biofilia às cidades, ao desenho e planejamento urbanístico. Timothy acredita que mesmo que a biofilia seja uma condição e tendência natural genética do ser humano, existe a necessidade de intensificar e fortalecer o contato com a natureza para que a conexão se perpetue.

cidades-biofilicas-integrando-a-natureza-2

Basta pararmos para pensar quanto os imóveis que se localizam próximo a parques, praças e praia, são valorizados no mercado. Atributos como:

“De frente para o mar”, 
“Há 5 minutos do parque da Redenção”, 
“Próximo a praça da Encol”, 
“A 200 metros da beira da praia”,

chamam a atenção de quem procura um imóvel para comprar ou alugar, não é?

Por quê?

Porque estes são atributos naturais, é natureza em meio a selva de pedra, provando o que a Biofilia expressa, de que os humanos buscam a interação e o contato com o que é natural.

Projetos biofílicos no cenário urbano vêm aumentando bastante nos últimos anos, especialmente em grandes cidades, em edifícios que procuram incorporar características naturais como ventilação, luz, vegetação, agricultura e cultivo, entre outros aspectos.

Estes esforços têm aparecido mais fortemente em países desenvolvidos, pois a maioria dos centros urbanos de países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos ainda não demonstram preocupação em colocar esta tendência em prática.

Timothy Beatley ajudou a criar a rede de Cidades Biofílicas, em um projeto que inclui 8 cidades do mundo. São elas:

  • Singapura
  • Vitoria-Gasteiz, Espanha
  • Oslo, Noruega
  • Portland, EUA
  • São Francisco, EUA
  • Birmingham, Inglaterra
  • Nova Iorque, EUA
  • Seattle, EUA

Assim como no design, as cidades biofílicas também possuem 7 princípios. As 8 cidades da rede foram planejadas para que seus habitantes desenvolvam atividades e estilo de vida ligados diretamente à natureza, conforme os 7 princípios das cidades biofílicas:

1º Princípio: Natureza em abundância localizada próxima a um grande número de habitantes

A ideia é que um grande número de pessoas tenha acesso fácil a grandes áreas naturais. Um exemplo desse primeiro princípio é o Central Park, localizado bem no meio da cidade de Nova Iorque.

O projeto biofílico da cidade não se limita ao Central Park,  até 2030 a cidade de Nova Iorque terá um espaço público verde a 10 minutos de caminhada para cada habitante da cidade.

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2º Princípio: Conexão dos cidadãos com flora e fauna nativas

Valorização das riquezas naturais locais para que as pessoas possam conhecê-las e preservá-las através de programas educacionais. Este segundo princípio sugere principalmente que deve existir um comprometimento dos habitantes com a manutenção e cuidados com as áreas naturais em suas atividades cotidianas em conjunto com o apoio público e privado.

3º Princípio: Interligar espaços ao ar livre promovendo e facilitando o uso da população

A ideia é que as pessoas possam usufruir dos espaços naturais com facilidade para que a interação e integração com a natureza seja realizada facilmente, prazerosamente e com frequência.

Em Cingapura foram criadas passarelas suspensas com 200 km de caminhos que interligam os seus parques. Desse modo, a população tem acesso facilitado aos parques de diferentes pontos da cidade.

Em Oslo, capital da Noruega, dois terços da cidade é reserva florestal e há uma rota bastante abrangente de transporte público para ajudar as pessoas a circularem por estas florestas.

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4º Princípio: Ambientes multissensoriais

Criação de espaços adaptados que oferecem experiências visuais, sonoras e ou olfativas relacionadas a natureza e biodiversidade local. O intuito é principalmente a interação e entretenimento com o ambiente natural. Em um mundo onde a diversão e o entretenimento estão basicamente ligados à tecnologia digital, esses ambientes multissensoriais não só aproximam as pessoas da natureza como são capazes de promover a ressignificação do entretenimento.

5º Princípio: Educação no campo da natureza

Este princípio incentiva a criação de ações comunitárias na busca pela integração das pessoas com a cidade em um estilo de vida mais natural. Caminhadas guiadas em espaços naturais, acampamentos, hortas comunitárias, recuperação de áreas degradadas através de programas de voluntários, entre outras atividades.

Two young women girlfriends wearing jeans shorts biking on sidewalk in park on sunny summer day, back view

6º Princípio: Investimento em infraestrutura que favoreça a conexão entre cidade e natureza

Criação de espaços para aulas que girem em torno da natureza e execução de design inteligente e sustentável, museus naturais, centros de convivência. Esses são alguns exemplos do 6º princípio das cidades biofílicas. O intuito essencial é fazer as pessoas interagirem de forma mútua com a natureza em todos os momentos do dia a dia, na hora da aula, na hora do lazer e descanso, etc.

Vitoria-Gasteiz, a capital do País Basco, na Espanha é muito conhecida por possuir caminhos de anéis verdes nas partes mais densamente urbanizadas da cidade. As pessoas caminham e se deslocam de um ponto a outro da cidade em contato contínuo com a natureza.

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7º Princípio: Conscientização sobre os impactos de questões ambientais

Este princípio visa o planejamento e implementação de planos de ação que protegem a biodiversidade local. Muitas vezes a população não tem a intenção de prejudicar ou impactar negativamente a natureza em uma cidade. Simplesmente desconhecem o impacto das suas ações diárias para o meio ambiente não sabem o que fazer exatamente para protegê-la e preservá-la. Nas cidades biofílicas existem projetos de conscientização para a população contribuir para a preservação da natureza nos espaços urbanos.

Uma cidade biofílica possibilita aos seus habitantes desenvolverem atividades e um estilo de vida que os deixa aprender com a natureza e comprometer-se com seu cuidado. O futuro dos centros urbanos promete voltar às origens e tornar as cidades melhores. Permite que os habitantes se desloquem sem destruir o que é natural e preservem mais as áreas verdes, capazes de oferecer uma melhor qualidade de vida.

Integrar o conceito de biofilia ao desenvolvimento das cidades é a melhor solução para o futuro. E somente com um planejamento urbano sustentado nos princípios da cidade biofílica será possível promover esse maior contato com a natureza e a sua integração com a humanidade.

O que é uma cidade biofílica?

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O que é uma cidade biofílica?, High Line, Nova York - Via landarchs.com
High Line, Nova York - Via landarchs.com
O termo “biofilia” é utilizado pela Universidade de Harvard para definir o grau em que os seres humanos estão conectados com a natureza e com outras formas de vida.
Timothy Beatley, autor do livro “BiophilicCities: IntegratingNatureintoUrban Design and Planning”, aplica o termo biofilia às cidades que apresentam um desenho urbano que permite aos habitantes desenvolverem atividades e um estilo de vida que os deixa aprender com a natureza e comprometer-se com seu cuidado. Além disso, as instituições locais das cidades biofílicas destinam parte do orçamento dos seus governos para cumprir este compromisso. 
Para Beatley, o projeto biofílico tem aumentado nos últimos anos, particularmente nos edifícios que buscam integrar características naturais, como luz, ventilação e vegetação; no entanto, a grande maioria dos centros urbanos não tem canalizado seus esforços para desenvolver esta tendência. 
Na continuação poderá conhecer sete características das cidades biofílicas.
High Line, Nova York © David Berkowitz; via Flickr. Used under <a href='https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/'>Creative Commons</a>
High Line, Nova York © David Berkowitz; via Flickr. Used under Creative Commons
1. Natureza abundante nas proximidades das cidades com grande número de habitantes. 
Para alcançar esta característica, as cidades biofílicas possuem programas públicos de infraestrutura de áreas verdes que lhes permitem destinar uma porcentagem de seu orçamento para financiar estes projetos. Levando isso em conta, Nova York se qualifica como uma cidade biofílica, já que conta com o programa PlaNYC, que pretende que em 2030 cada habitante da cidade tenha um espaço público verde a 10 minutos de caminhada. Seattle também se classifica como uma cidade biofílica, porque tem o plano Seattle P-Patch, que visa construir um jardim urbano comunitário para cada 2.500 habitantes. 
Wellington, Nova Zelândia - landarchs.com
Wellington, Nova Zelândia - landarchs.com
2. Afinidade entre cidadãos, flora e fauna nativa
Bentley considera o clima, a flora e a fauna como características que definem o lar urbano. Por isso, considera fundamental que as autoridades municipais eduquem, estimulem e incentivem os habitantes a conhecer as espécies locais e nativas da flora e fauna, para que as comunidades valorizem seus benefícios ambientais e procurem preservá-los. 
Em Wellington, Nova Zelândia, esta prática já é uma realidade graças ao trabalho de mais de sessenta grupos comunitários e voluntários de conservação que nos últimos anos tem realizado 28.000 horas de serviço em 4.000 hectares de reservas naturais. No caso de Oslo, Noruega, mais de 81% dos habitantes visitou em 2012 os bosques que rodeiam a cidade, o que demonstra o valor que os residentes dão pela paisagem natural. 
Canopy Walk, Singapura - Via landarchs.com
Canopy Walk, Singapura - Via landarchs.com
3. Oportunidades para estar ao ar livre e desfrutar da natureza
A urbanização leva à falta de áreas verdes e à valorização dos terrenos baldios como um verdadeiro prêmio. Para não criar a sensação de que faltam espaços verdes, pode-se conectar os parques urbanos existentes através de caminhos que facilitem o acesso a essas áreas por parte dos moradores. Assim, as cidades biofílicas oferecem várias opções para se estar ao ar livre e realizar caminhadas.
Singapura já conectou seus parques, integrando 200 quilômetros de caminhos por meio de passarelas elevadas que permitem que habitantes de diferentes pontos da cidade entrem nos parques. Entretanto, Anchorage, Alaska, tem 1,6 km de caminhos naturais a cada 1000 habitantes. Estes são multiusos e dão a possibilidade de serem utilizados durante todo o ano, tanto para realizar passeios como para esquiar. 
Oslo, Noruega - Via landarchs.com
Oslo, Noruega - Via landarchs.com
4. Ambientes multissensoriais
A integração de espaços naturais e corredores ecológicos na trama urbana podem ajudar a criar as condições necessárias para novos espaços multissensoriais, onde os sons naturais são tão apreciados como a experiência visual de percorrer um parque.  Um exemplo de espaços multissensoriais é um projeto norueguês que busca iluminar oito rios de Oslo. Isto será parte de Akersleva, um corredor que permitiria aos cidadãos do centro da cidade se transportar até os parques próximos passando por caminhos com 14 áreas de silêncio. 
Via limerickbiodiversity.weebly.com
Via limerickbiodiversity.weebly.com
5. As cidades biofílicas concedem um papel importante à educação no campo da natureza
A educação sobre a natureza pode promover a adoção de uma vida sustentável por parte da população. As cidades biofílicas dão importância à educação em campo, porque dá a possibilidade de unir-se com outras pessoas para conectar-se com a natureza, podendo ser através de caminhadas guiadas, acampamentos ou voluntariado para recuperar áreas naturais. 
Em Limerick, Irlanda, vários grupos ambientalistas estão trabalhando com o município para educar a população sobre a biodiversidade e as espécies selvagens nativas. Urban Tree Project  e Limerick City Biodiversity Network são dois novos grupos que tem envolvido a população local com a natureza, oferecendo visitas guiadas, conferências e recursos online para aprender sobre a importância da biodiversidade.
Portland, Estados Unidos - Via landarchs.com
Portland, Estados Unidos - Via landarchs.com
6. Investimento em infraestrutura social que ajude a população urbana à compreender a natureza
O investimento nesta área é um excelente indicador de uma cidade biofílica. De acordo com Beatley, as cidades deste tipo investem em torno de 5% do seu orçamento dedicado à biodiversidade e pelo menos colocam em funcionamento um projeto biofílico por ano. Com isso, podem-se construir centros de vida silvestre e museus de história natural, financiar iniciativas escolares e programas de recreação, entre outros. 
Em Portland, Oregon, essa porcentagem do orçamento se superou notavelmente e tem-se feito investimentos em infraestrutura social e “verde”, já que contam com os parques urbanos com maior superfície per capita dos Estados Unidos. Entretanto, N’Parks de Singapura tem um programa de incentivos chamado Skyrise Verde, que financia até 75% dos projetos para jardins urbanos em telhados e paredes verdes. 
Parque Olarizu, Vitoria-Gasteiz - Via landarchs.com
Parque Olarizu, Vitoria-Gasteiz - Via landarchs.com
7. As cidades biofílicas tomam medidas para apoiar ativamente a conservação da natureza
As cidades devem ter em conta a sua pegada ecológica e os impactos negativos sobre o ambiente que gera a população e as atividades desenvolvidas pela mesma. Para conseguir isso, as cidades - que podem ser chamadas de biofílicas - focam no desenvolvimento compacto e na designação de áreas protegidas através da criação de planos de ação para proteger a biodiversidade do lugar.
Em Nagoya, Japão, 10% do solo está localizado ao lado dos limites urbanos, de modo que fique em um estado não gerenciado e possa ser protegida como reserva natural. Enquanto isso, Phoenix, EUA, comprou 17.000 hectares de deserto a fim de evitar os efeitos negativos da expansão urbana da cidade e designar esta área como um lugar para a conservação da natureza.
Também o caso de Vitória - Gasteiz, no País Basco, cidade que está cercada por um cinturão verde para limitar o desenvolvimento da cidade e proteger o pantanal Salburua. Como este plano tem dado bons resultados, está sendo estudada a possibilidade da criação de um anel verde interno para levar as áreas verdes para dentro da cidade.
Para Beatley, os indicadores que se concentram na introdução e proteção de áreas verdes naturais ao interior das cidades, incentivam a interação dos habitantes com a educação ambiental e restauração dos habitats das cidades. Considerando que mais da metade da população mundial vive em centros urbanos onde há uma carência de natureza, a biofilia tornou-se a melhor opção para as cidades. 
Texto por Constanza Martínez Gaete via Plataforma Urbana. Tradução Archdaily Brasil.